José Saramago, português e Prémio Nobel da Literatura, não era um cidadão consensual. Defensor da ideologia comunista, nunca deixou de pagar as suas cotas ao partido. São igualmente conhecidas as suas posições e atitudes durante o período mais revolucionário do início da nossa democracia. É também sobejamente conhecida a sua opinião, como ateu, que nega e critica a crença que guia muitos portugueses.
O PPM, face às ideias do cidadão Saramago, não pode dizer que se revê nas mesmas. Contudo, ninguém pede ou exige aos cidadãos activos e intervenientes socialmente que sejam consensuais. Exige-se, isso sim, clareza nas suas intenções e actos. E que, pelo menos, sejam honestos consigo próprios quando as defendem.
Assim, tal como o PPM tem ideias e defende um modelo de sociedade diferente daqueles que Saramago e o seu partido sempre defenderam, o PPM não pode deixar de manifestar o seu pesar pelo desaparecimento físico de uma figura nacional de projecção internacional.
A sua obra é um legado universal para a sempre eterna discussão sobre o modelo de sociedade em que o ser humano deseja viver.
Com “Jangada de Pedra”, Saramago criticou a excessiva ligação de Portugal e Espanha ao resto da Europa. Quando, no “Ensaio sobre a Cegueira” e a sequela “Ensaio sobre a Lucidez”, o escritor versa sobre o papel social e político do ser humano, ele não coloca nomes nas personagens. Nem identifica o país. É Universal. É um exemplo perfeito do que significa ser Português.
Se alguma Direita foi instrumento responsável para o afastamento físico de Saramago do território nacional, então devemos também deixar de notar que Saramago não encontrou obstáculos criativos ou de promoção pessoal, e até financeira, num regime Monárquico, pois a Espanha, onde ele escolheu viver os últimos anos da sua vida, é uma Monarquia.
Não podemos também esconder, como quem tapa o sol debaixo de uma peneira, que o prémio máximo da vida de José Saramago e, através dele, o prémio máximo que a literatura de língua portuguesa recebeu, é um galardão mundialmente reconhecido entregue pelas mãos de um monarca, o Rei da Suécia.
Logo, José Saramago mostrou ao mundo que um regime monárquico é um regime suficientemente democrático para que um militante do PCP possa trabalhar e produzir e é também suficientemente importante para que o seu nome seja cantado para todo o sempre e, como dizia o poeta Camões, poder da lei da morte libertar-se.
Destaque-se ainda o facto de, no seu livro “As Intermitências da Morte”, o tal país imaginário do escritor português ser governado em Monarquia e não em República, ainda que isso, sabemos nós, resultasse de uma ironia própria do autor e não fosse sinónimo de uma sua preferência pessoal pela Monarquia.
De resto, bastaria igualmente evocar o “Memorial do Convento”, para dizer que, se não fosse a História passada de Portugal e dos seus reis, não haveria este romance na literatura mundial.
Saramago, sabemos também - e sabe o PCP -, defendia valores que são Universais para o PPM: o ser humano e a sua relação com o outro ser humano em igualdade de direitos sociais. A defesa da terra e da sua cultura, a defesa do belo e sagrado que brota das mãos de quem trabalha.
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